Diante do espetacular desempenho da cidade de Xangai no Pisa, escrevi sobre as mães chinesas. Citei a sino-americana Amy Chua, para quem o método consiste na disciplina rígida, imposta por meio da vara de marmelo e do foco obsessivo nos assuntos da escola. Isso tudo sob o manto de uma tradição confucionista que dá autoridade aos pais e valoriza a educação. Como me escreveu uma leitora sino-brasileira, eis "a regra que chineses têm adotado desde sempre: exigir o máximo de si e dos filhos. E dormir tranquilos, certos de haver feito o melhor". Larry Wolif, judeu americano, comentou uma versão preliminar: "Comparados aos chineses, os alunos judeus são igualmente bons no SAT (uma prova equivalente ao nosso Enem) e muito melhores em criatividade. As famílias judias são muito centradas nas crianças - fazem delas o centro de afeto e atenção (por exemplo, gastos elevados em bar mitzvah, festas, acampamentos, viagens etc.). Além disso, tal como os chineses, têm expectativas muito elevadas em relação aos filhos. Contudo, expressam tais pressões de forma mais sutil e afetiva, reconhecendo que há outras aptidões que vão além das acadêmicas" No embalo do sucesso de Chua, o jornal The Jewish Week dedica um longo artigo comentando vários livros sobre mães judias. No estilo judeu, em vez da vara de marmelo, há um toque de chantagem emocional: "Meu filhinho adorado, sua mãe vai ficar muito infeliz se você não for o primeiro" Para elas, funciona melhor um método gentil, sem ameaças nem violências. É mais sub-reptício, usando culpa ou despejando afeto nas crianças. Para que ameaças? As mães chinesas insistem mais em obediência, as judias encorajam a argumentação, seguindo a tradição judaica de discutir tudo. Em sociedades modernas e confusas, a dialética da discussão é preciosa. Há também a veneração pelos livros, sempre comprados, mostrados e lidos pelos próprios pais. Seja qual for a explicação, a fórmula vem dando certo. A população judaica mal chega a 14 milhões. É mais ou menos como a cidade de São Paulo. Soma 0,2% da população mundial. Não obstante, 128 Prêmios Nobel foram para judeus, correspondendo a aproximadamente 20% de todos os premiados. O problema com nossas famílias é que não usamos nem um nem o outro método. Será por isso que o esforço é tão pouco e os resultados tão parcos? A força do afeto no método judeu parece mais próxima da nossa tradição cultural. Aliás, se os palestinos estão aprendendo com os seus vizinhos israelenses a valorizar mais a educação, por que não podemos fazer o mesmo? Durante uma viagem à China, um leitor sino-brasileiro foi convidado a falar em uma escola. "Tanto professores quanto alunos ficaram chocados com a enorme diferença de horas dedicadas a aulas e atividades curriculares. E com o contraste na dedicação e participação dos pais na vida estudantil." Não obstante, meu ensaio anterior causou indignação em alguns pais brasileiros. Imagino que, para eles, o esforço de desligar a televisão para que os filhos estudem seja descomunal ou, pior, sem sentido. (Claudio de Moura Castro, revista "Veja")
Como hoje as teorias genéticas de superioridade ou inferioridade estão desacreditadas, é preciso buscar outras causas. O conjunto de características associadas a valores, cultura, disciplina e hábitos mentais é o candidato mais forte. Tudo indica que a obsessão judia pela escola tenha um papel enorme. Mas, claramente, empurrar os filhos para os livros não basta. A pobreza cultural puxa para trás. Os próprios judeus que viviam no mundo árabe e migraram para Israel obtêm resultados notavelmente inferiores na escola, comparados aos originários da Europa, que já vieram bem mais educados. E nós com essa discussão? Na verdade, temos muito que aprender com ela. Não entremos aqui nas controvérsias. Basta constatar que tanto a disciplina rigorosa quanto a chantagem emocional produzem.
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Mãe Chinesa ou Mãe Judia?
postado por L F Baraun às 14:45 0 comentários
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